Despertar o aluno para o interesse do conhecimento das disciplinas
escolares está se tornando uma tarefa cada vez mais difícil. Algumas mudanças
na sociedade atual ajudam a explicar isso. É necessário atentar para alguns
fatores no sentido de entender melhor o problema.
Apesar existirem algumas explicações homogêneas sobre o assunto, a
verdade é que em cada escola há uma realidade diferente. Além disso, cada aluno
tem a sua individualidade e história Familiar. De modo geral as famílias estão
vivenciando uma espécie de reestruturação diante das novas demandas sociais e
econômicas. Os pais estão cada vez mais envolvidos com o mercado de trabalho e
o papel que costumavam realizar na educação básica dos filhos está sendo
transferido para a escola. Acredito serem os pais os primeiros a despertarem
nos filhos o interesse pela aprendizagem, mas atualmente não conseguem mais,
dentre outro fatores, por falta de tempo. Assim como acompanhar cotidianamente
a educação e a escolarização dos seus filhos.
Outra mudança a ser considerada diz respeito à popularização da cultura
digital, pois o acesso à internet e aos computadores portáteis permite centenas
de possibilidades que atraem muito aos alunos. Crianças e adolescentes se
mostram bastantes interessados em atividades que sejam fáceis, rápidas e
intuitivas. Se antes, uma das formas de se ter acesso aos conhecimentos era
necessário pesquisa em biblioteca ou fazer curso, hoje estão disponíveis na
palma da mão.
No mundo virtual, textos, imagens e vídeos ensinam ou demonstram os
usuários a fazerem diversas atividades dispensando muitas vezes o papel de um
instrutor ou professor. Muitas vezes são materiais rasos ou falhos, mas há
também muito conteúdo bom, tornando a vida mais fácil ou econômica para quem
acessa aquelas informações. E é dentro desta realidade sociocultural que se
encontra a escola, ainda carregada de uma carga de tradicionalidade, associada
a um modelo em que o professor está na frente de uma turma, muitas vezes
abarrotada de alunos, tentando expor o conhecimento das disciplinas convencionais.
Temos uma instituição e um formato de educação que há muito não se
enquadram com a realidade social brasileira. Há tentativas de se mudar esta
realidade no Brasil, mas quase todas as reformas na educação partem de uma ação
do Estado, com pouquíssima ou nenhuma participação da comunidade escolar.
É justamente dentro deste contexto que apresento a proposta de se fazer
um roteiro histórico geográfico no bairro de Inhaúma, local em que se encontra
a escola em que leciono, de modo a criar uma possibilidade de aprendizagem para
fora dos muros da escola e para além da aula expositiva, tentando despertar o
interesse pelo conhecimento com uma atividade extraclasse e interdisciplinar.
Despertar nele também o interesse pelos bens patrimoniais do bairro em que vive
ou estuda, no intuito de valorizar e lutar pela sua preservação.
Muito
já se destruiu do patrimônio cultural da região da Zona Norte do Rio de
Janeiro. Um exemplo recente foi o prédio da casa grande da Fazenda Botafogo (um
antigo engenho colonial). Esta ficava próximo no bairro Guadalupe, na Avenida
Brasil. Abandonada até quase virar pó, deu lugar a obras do programa do governo
federal: Minha casa, minha vida. Sendo uma área de concentração da classe
trabalhadora da cidade, que não consegue enxergar o valor cultural do lugar
onde vive, ficando difícil lutar junto aos poderes população não vislumbra a
conservação da memória do bairro por achar que aquilo não lhe pertence. Também
não enxergam as possibilidades de uso dos seus bens e, para isso, é necessário
um trabalho de educação patrimonial na prática, Também não enxergam as
possibilidades de uso dos bens e, para isso, é necessário um trabalho sobre
educação patrimonial na prática, pois:
“[...] Para que haja preservação, faz-se necessário a
interação, que leva a valorização de sua herança cultural e a produção e novos
valores e conhecimentos. Faz-se necessário entender também que há uma
diversidade de modos de apropriação do espaço, da comunidade e da cidade, gerando
uma cidade como guerra de relatos, de interpretações, com cada grupo possuindo
seu próprio mapa cultural [...]”[1]
Diante desta realidade
devemos mostrar as possibilidades de aprendizagem e, por que não, de futura
atividade econômica ao se preservar o patrimônio local (turismo; comércio;
serviço). A partir deste movimento para fora da escola esperamos ampliar as
práticas de ensino e a aprendizagem para o educando. Estimular o interesse do
mesmo pelo estudo da história do bairro, da disciplina escolar, além de mostrar
que ele é também um agente da história. Que perceba que seu conhecimento e a
sua participação em ações locais podem promover mudanças de rumo no futuro da
sua comunidade. Busca-se também a possibilidade de uma maior e melhor
aproximação entre comunidade escolar e a Escola.
[1] MAGALHÃES, Leandro Henrique; Martins,
Patrícia; Zanon, Elisa. Educação Patrimonial - Da teoria à prática. Londrina: Unifil,
2009. Pág. 62.